Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) pode acometer pessoas de qualquer idade após a vivência de uma situação de crise como a guerra
A guerra na Ucrânia levou a um aumento
significativo no número de refugiados no mundo. Segundo a Agência das Nações Unidas
para Refugiados (ACNUR), já são mais de 1,7 milhão de pessoas que deixaram suas
casas desde o início da invasão do país pela Rússia.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
pode acometer pessoas de qualquer idade após a vivência de uma situação de
crise como a guerra. Os principais sintomas são insônia, irritabilidade,
mudanças de humor e inquietação inesperada.
Na edição desta segunda-feira (7) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia na CNN
Brasil, o neurocirurgião Fernando Gomes explicou como o conflito pode
desencadear traumas e provocar danos a longo prazo para a saúde mental.
“Depois de uma guerra, a gente sabe que existe essa
situação do estresse pós-traumático desde os indivíduos que trabalharam no
front até mesmo para toda a população envolvida nesse processo e que tem um
quadro clínico bem exuberante e típico com flashbacks, alteração no sono,
sensação de angústia e de sentimentos físicos”, afirma Gomes.
Diante da ameaça de conflitos armados, as pessoas
precisam fazer escolhas de maneira ágil e sob grande pressão. Uma das mais
difíceis pode ser a opção por deixar o lar em busca de lugares mais seguros,
principalmente se for preciso deixar algum familiar ou amigo para trás.
“Quando existe um trauma muito grande e uma
situação crítica que se prolonga, por exemplo da guerra, você tem aquele salto
de adrenalina pelo corpo em uma situação aguda, como uma bomba que explode, mas
a longo prazo você tem uma liberação tônica de cortisol”, explica Gomes.
Segundo ele, a liberação de hormônios pelo
organismo, como medida natural de mecanismo de defesa, pode levar a lapsos de
memória. “Sabemos que existe um processo como se fosse uma defesa natural do
próprio cérebro, que provoca lapsos de memória e até mesmo amnésia, como se
fosse uma forma de você conseguir suportar dor tamanha para continuar vivendo”,
afirma.
Diagnóstico e tratamento do trauma
O diagnóstico e tratamento oportunos do estresse
pós-traumático podem contribuir para a redução de danos associados à
experiência do conflito, principalmente em relação às crianças expostas ao trauma. “Quando
existe um fator estressor único, existe um processo de luto que via de regra
acaba ocupando, até o indivíduo ter a sua resiliência e passar por todas
etapas, mais ou menos cerca de dois anos”, diz.
Ainda não há um consenso científico para explicar
por que algumas pessoas são mais propensas ao trauma do que outras. Algumas
hipóteses incluem fatores genéticos, questões hormonais e a
própria capacidade do indivíduo de lidar com situações de estresse.
O tratamento pode ser realizado a partir do acompanhamento psicológico e
psiquiátrico, com o uso de medicação quando prescrito pelo profissional de
saúde. Outros tipos de terapia consistem na exposição prolongada e terapia de
processamento cognitivo, que são técnicas vinculadas a um processo de colocar o
indivíduo diante da situação traumática de forma gradual, com o objetivo de
provocar a dessensibilização em relação ao evento traumático.
O apoio familiar e social também contribui
para a prevenção ao transtorno de estresse pós-traumático.
“Dependendo do país em que o refugiado vai se
alocar, pode existir um acolhimento maior ou menor, ou uma visão mais aplicada
a essa situação ou não. Em linhas gerais, acaba sendo a instrução e o
reconhecimento de que isso existe que faz com que a gente possa ter resultados
melhores”, conclui.
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